Solidão, medo e a tristeza de não poder se despedir de amigos e familiares que morreram nos últimos meses estão entre as principais angústias das pessoas que buscam auxílio no CVV (Centro de Valorização da Vida) durante a pandemia. A informação é da voluntária Eliane Soares, porta-voz do CVV em Piracicaba. Por meio do telefone 188, unificado para todo o Brasil, são atendidas, em média, 10 mil ligações por dia.
“Muitas pessoas que moram sozinhas e tinham a rotina de trabalhar fora de casa, encontrar com os amigos, estão sentindo o impacto de ficar isoladas; ao mesmo tempo, têm receio de sair e contrair a Covid-19”, relata Eliane. “Outras pessoas vivem o luto e o drama de não poder se despedir de um familiar ou amigo que faleceu durante a pandemia”, relata.
A estas pessoas, voluntários do CVV oferecem uma escuta amorosa e compreensiva, com a pergunta inicial: “Como você está se sentindo neste momento?”
Aos que estão em casa, Eliane deixa um recado: “Se estiver sofrendo, não se sinta sozinho. Não tenha vergonha: converse com um amigo e, quando não houver esta possibilidade, busque ajuda em grupos de apoio”.
Para auxiliar os que passam por angústias, o CVV mantém diversos canais de atendimento. Além do telefone, disponibiliza no site (cvv.org.br) um chat e responde a e-mails (atendimento@cvv.org.br). Dialoga com o público também por meio das mídias sociais, com canais no Facebook, Instagram e Youtube.
Ciente de que as doenças mentais tendem a aumentar durante períodos de isolamento, o CVV intensifica a interlocução com o público via mídias sociais. No último dia 20, lançou no canal do Youtube, no Facebook e no Instagram o “Como vai você?”, programa de entrevistas ao vivo, que vai ao ar quinzenalmente, de segunda-feira, às 19h.
O primeiro entrevistado foi o psiquiatra Neury Botega, professor titular da Unicamp, que falou sobre amizade e bem-estar. “Amigo é aquele com quem a gente guarda uma cumplicidade a ponto de poder falar das coisas que mais nos doem, das coisas mais secretas, daquelas que, às vezes, são difíceis pra gente mesmo se ouvir falando”, afirmou. Durante a entrevista, destacou a importância do amigo ouvir o outro. Esta escuta sem julgamentos, segundo o médico, pode evitar que a pessoa carregue uma situação que seja revelada apenas após muitos anos a um psiquiatra, em um contexto “quase que profissional”.
Durante a pandemia, Botega destacou que há muita gente cansada, começando a ficar deprimida, adoecendo. Por isso, destacou a importância das pessoas não se limitarem aos contatos via Whatsapp. “É hora de dar um telefonema, ouvir a voz, chamar para um vídeo. Quando possível, fazer uma visita a amigos e familiares e ficar no portão.”
OMS LANÇA CARTILHA DE CUIDADOS PESSOAIS
Para ajudar as pessoas a manterem a saúde mental durante a pandemia, a OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou uma cartilha com dicas de cuidados pessoais e com o próximo.
Cuidar do corpo, manter alimentação saudável, sono regular e praticar atividades físicas estão entre as orientações de autocuidado da OMS. Desenvolver um hobby, ouvir música, ler um livro, assistir a uma série ou a um filme também estão entre as dicas.
A orientação é para que as pessoas desenvolvam um olhar realista sobre os acontecimentos, lembrando de que nada dura para sempre. A meditação é citada como uma aliada para este período.
O tempo disponível deve ser aproveitado para colocar a casa e as coisas em ordem, cuidar das plantas, organizar arquivos e fotos do computador.
Manter o contato com as pessoas é essencial. “Conecte-se com as pessoas, mesmo que virtualmente, seja para falar sobre trabalho, estudos ou sobre como está se sentindo. Não se isole!”
O guia também destaca a importância de que seja estabelecida uma rotina diária, de trabalho, autocuidado, de atividades que deem prazer e estimulem a mente.
Os tratamentos médicos em andamento não devem ser interrompidos. Caso a pessoa sinta-se angustiada, a orientação é que busque ajuda, sempre. Durante a pandemia, estão liberados os atendimentos on-line para os profissionais da área da saúde, como médicos e psicólogos.
Jornalistas responsáveis: Flávia Paschoal/Marisa Massiarelli Setto – Toda Mídia Comunicação
