Vômito, diarreia, febre, dor abdominal e enjoo são velhos conhecidos no Verão. Características de um quadro chamado genericamente de virose, costumam estragar viagens à praia, cruzeiros marítimos e afetar a vida e o trabalho das pessoas, com perda produtiva superior a R$ 220 bilhões por ano no mundo inteiro.
O médico Ricardo Tedeschi Matos, gastroenterologista e cirurgião geral, explica que médicos costumam usar o termo virose para se referir às gastroenterites virais, causadas especialmente pelo enterovírus, o coronavírus e o rotavírus.
Tedeschi lembra que esses quadros, as gastroenterites, são mais comuns no Verão, quando as temperaturas sobem e, naturalmente, as pessoas saem mais, mudam a rotina, vão visitar outros lugares, fazem refeições fora, e ficam mais expostas, até porque o próprio calor acelera a decomposição dos alimentos.
“A gastroenterite é uma inflamação do tubo digestivo (estômago e/ou intestino). A primeira parada do vírus é o estômago. Ele irrita as paredes do órgão, o que provoca a vontade de vomitar. Logo em seguida, o invasor desce para o intestino, onde prejudica algumas células e dispara a secreção de líquidos e sais minerais, que vão embora na diarreia”, explica.
Tedeschi explica que o diagnóstico da virose depende do relato do indivíduo. Descobrir o tipo de vírus que está atacando, o que seria possível por meio de um teste laboratorial, não vai influenciar a evolução do quadro ou o tratamento.
“Alguns pacientes estranham por sair do consultório com apenas recomendações básicas, como hidratação e repouso, remédio para febre e enjoo, que vão ajudar no controle do quadro, que dura poucos dias. Não existe a necessidade de antibióticos, já que eles atuam contra bactérias e não têm poder sobre vírus”, diz.
O que Ricardo Tedeschi recomenda é muita atenção à hidratação, regra número um para controlar a gastroenterite. Além da água, ele cita a ingestão de soro (que pode ser feito em casa ou comprado nas farmácias) e água de coco, rica em sais minerais. Isotônicos, sucos, energéticos e bebidas alcoólicas são contraindicados.
Sobre a dieta, a sugestão é restringir o consumo de gordura e açúcar. Nos primeiros dias, arroz branco, batata cozida, canja e peito de frango grelhado são considerados boa pedida.
É possível reduzir a probabilidade de gastroenterites?
Se a normalidade não regressar em três ou quatro dias e houver sinais de desidratação (boca seca, olhos encovados, diminuição da quantidade de urina, confusão mental), ou se existir sangue ou muco nas fezes, se a dor abdominal for muito intensa ou, ainda, se os sintomas não melhorarem apesar do cumprimento das recomendações descritas, o melhor é procurar ajuda médica.
“A atenção deve ser maior em crianças e idosos, que têm risco elevado de sofrer com as complicações da desidratação”, alerta o médico. Até existe uma vacina contra o rotavírus, disponível para as crianças, uma das faixas etárias vulneráveis às gastroenterites.
É possível reduzir a probabilidade de gastroenterites? Ricardo Tedeschi Matos diz que sim. E a maneira mais eficaz de evitá-las é caprichar na higiene, em particular, das mãos. As recomendações são lavar bem as mãos, com água e sabão, antes de manusear alimentos, antes das refeições, e depois de utilizar o banheiro, cuidar do jardim ou brincar com animais.
A alimentação é outro item que merece atenção. Em casa, sempre higienize os vegetais, não deixe recipientes longe da geladeira por muito tempo, fique atento ao prazo de validade e verifique pistas de decomposição, como mau cheiro ou mudanças de cor. Fora de casa, escolha restaurantes e bares de confiança. E sempre consuma água de origem confiável.
Crédito da foto: Roberta Blanco
