Neste ano de 2018, a Regional Piracicaba da Associação Paulista de Medicina já sediou dois eventos alinhados com uma forma mais humanizada de fazer medicina. A Jornada sobre Cuidados Paliativos e o Programa de Educação Continuada Slow Medicine trouxeram para os médicos da região esse olhar sobre a prática médica, uma das principais bandeiras do presidente da entidade, o médico Ricardo Tedeschi Matos.
Tedeschi entende que difundir esses conceitos constitui um passo importante na direção de mudanças tão necessárias na medicina, que hoje expõe os profissionais a situações limite, pressionados pelas dificuldades e carências encontradas no setor público, as pressões oriundas do setor privado e as tecnologias que, se de um lado trouxeram grande avanço, também fomentam um distanciamento.
“A medicina humanizada busca uma relação mais próxima e humana entre médico e paciente, vai muito além do atendimento no consultório. Na medicina humanizada, prioriza-se o atendimento completo e ágil, que engloba a consulta, encaminhamento para exames, diagnóstico, o tratamento e o pós-tratamento. Resume-se em tratar e acompanhar o paciente como um todo, com o suporte de uma equipe multidisciplinar, integrada e competente. O problema é que a prática desse modelo tem sido um desafio”, avalia o presidente.
A superação dos problemas que dificultam a prática tem sido objeto de estudos e buscas incessantes. Algumas escolas, como a Faculdade de Medicina da USP, vêm fazendo alterações na grade para ampliar a prática. O assunto também é tema de livros, como o escrito pelo médico Eder Trezza, professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), autor do livro “Humanização da Atenção à Saúde – Do Discurso à Prática”.
Tedeschi lembra que o autor destaca que a humanização no atendimento de saúde deve incluir medidas em três níveis, sendo o primeiro, a educação e desenvolvimento de comportamentos e atitudes humanizadas de todos os profissionais de saúde, começando nas faculdades e continuando nas unidades de saúde.
O dr. Trezza também fala em seu livro da necessidade de implantação e manutenção de estruturas humanizadas, desde a localização do hospital, pronto-socorro ou posto de saúde, até a qualidade das salas de espera, sanitários, enfermarias. Nesse tópico estão incluídos ambientes limpos, arejados, agradáveis e a tecnologia médica.
“Por fim, ele trata da Implantação de rotinas de serviço que levem em conta os interesses e as limitações dos doentes e de seus familiares, como horários de atendimento, facilidade para marcação de consultas e exames, atendimento rápido em casos de emergências, além de acesso dos usuários a informações sobre tudo que lhes diz respeito em termos de atendimento”, lembra Ricardo.
SOLUÇÃO – Segundo o presidente da APM Piracicaba, a medicina humanizada é aquela que prima pelo paciente e que busca a solução. O médico humanista sabe que, às vezes, uma simples mudança de estilo de vida é suficiente para melhorar a condição de saúde.
Outro ponto lembrado por Tedeschi, também analisado pelos que defendem a medicina humanizada, é a necessidade de cuidar do médico e dos profissionais de saúde. Eles devem ter atenção, estrutura e suporte digno para exercerem sem obstáculos sua principal função: cuidar do paciente e salvar vidas. Dados divulgados pelo do IBGE mostram que 142,8 milhões brasileiros consultam médico anualmente.
“Se pudermos evoluir no modelo, teremos uma medicina naturalmente mais humanizada, essa que defendemos e que perseguimos todos os dias. Nossa esperança é que essa abordagem humanitária um dia possa ser rotina em todos os serviços de saúde, oferecida a todos os pacientes”, destaca.
Crédito da foto do dr. Ricardo Tedeschi: Roberta Blanco
